sexta-feira, novembro 18, 2005

O tamanho conta?

Conta-se que Samora Machel (personagem injustamente fustigado pelo anedotário nacional) deparando-se com sérios problemas de organização ao nível das estruturas de base do partido, fez sair uma circular na qual constava o seguinte:

Uuuuuuuuuuuuu (ús pequeno)
Tqobdc (tê quê ó bê dê cê)
OOOOOOOOOO (ós grande)

Para ele, de acordo com a piada, o tamanho contava. Pois para mim também conta, por defeito ou por excesso. Não interessa tanto o que se pode fazer com ele (tamanho), porque a acção está sempre demasiado dependente das circunstâncias, mas sim a dimensão, que deverá ajustar-se tanto quanto possível às necessidades. Eis o que não acontece neste naipe de candidaturas presidenciais
Todos sabemos que "um homem é ele próprio mais as suas circunstâncias", sendo que nestas eleições e neste tempo histórico as circunstancias se vão apresentar semelhantes para qualquer destes homens, caso venha a ser eleito; dificuldades, contenção, crise, etc..
Portanto, o eleito valerá essencialmente pela sua dimensão, e pela forma como a souber ajustar às necessidades do país. Por esta ordem de ideias, o candidato do qual me sinto ideologicamente mais próximo, Mário Soares, leva uma grande vantagem sobre qualquer um dos outros. A sua superior dimensão política, humana e humanista, cultural, social, económica (sim, disse económica), etc., não deixam margem, não deixam espaço, a nenhum dos restantes, sempre demasiado confinados aos pequenos mundinhos de que se foram rodeando.
Mas, e há sempre um mas, há uma outra dimensão que antecede todas as outras. Uma dimensão maior (mais maior, à espanhola), que é a dimensão da vida, do tempo da vida.
Um homem nasce, vive e morre, e nesse percurso ganha para si próprio um tempo para estar nas coisas da vida, um tempo certo. Essa é a dimensão de que Soares não dispõe e é por isso que revela tanta dificuldade em "passar" no eleitorado.
Não se trata de colocar o cutelo da idade sobre a cabeça de ninguém, numa apreciação que seria sempre de um imediatismo primário, pouco correcta e desejável.
Trata-se de aferir até onde é possível esticar a corda no que diz respeito à permanência na ribalta do que quer que seja, coisa que os nossos candidatos estão apostados em fazer. Eles são sempre e exactamente os mesmos!
Um aparte; No que à idade diz respeito, Madonna acaba de demonstrar com o seu recente “Hung up” que isso tem muito que se lhe diga. E ela disse, peremptoriamente, às novas starletes da Pop & Soul, quais Beyonce, Kelis, Missy Elliot e etc. para aprenderem com a velhota e verem bem como é que se põe o mundo inteiro a dançar. A parada ali joga-se alta, e as Shakiras não contam para o campeonato. Há que distinguir bem o que é a competição branco / negro na qual Madonna vai fora golear, e perceber que os hispânicos jogam à parte.


No entanto, ao contrário de Madonna, que por ser americana global, é global, pensa global, os nossos potenciais presidentes revelam amiúde a sua triste pequenez. À excepção de Soares sempre esforçado em fazer-se global. E muito fez ele, extravasando largamente o que à partida seria de esperar para um político de um pequeno e periférico pais europeu.
Porque o desafio é mesmo esse, nos nossos tempos. Ser capaz de pensar global e agir localmente, com recurso aos instrumentos mais básicos de que o ser humano dispõe, a começar pelos seus sentidos. Ser capaz de perceber simultaneamente as transformações que o mundo vai sofrendo e o valor das coisas simples que garantem a sustentabilidade, como a fauna natural do Sabor ou o chouriço de Montalegre (já que estamos a falar de tamanho…).
Ora, na avaliação das candidaturas presidenciais, e perante o panorama desolador que nos foi proporcionado, e que condiciona fortemente (quase exclui) a vertente meramente racional da escolha, é precisamente de outros sentidos que temos que nos socorrer para fugirmos aos facilitismos tipo “gosto ou não gosto", tipo “…é cá dos nossos”.
Estamos perante uma crise de protagonistas e um esgotamento de personagens que traduz um fim de ciclo inevitável e é bem patente nestas eleições presidenciais. Que não se confina, aliás, ao nosso pais, mas que extende por toda a Europa (não nos esqueçamos que o presidente da Comissão Europeia é aquele incapaz).

Francisco Louça, e começo por ele por ser o mais fraco, o mais frágil, aparece nos cartazes dizendo “Olhos nos olhos”. O que é que lhe terá passado pela cabeça? Não saberá ele que os olhos são exactamente o seu ponto fraco? Poderá alguém confiar naqueles olhos, pequenos, que transmitem um ressentimento dominado, uma mágoa raivosa difícil de controlar? Os aspectos positivos, a inteligência, a criatividade, são relegados para segundo plano procurando tirar partido eleitoral dum sentimento de confiança de que não dispõe. Há qualquer coisa de Peter nesta candidatura.
Cavaco não aparece, estrategicamente, para não revelar o logro. E com isso propicia outro. Portugal não é Cavaco, embora ele gostasse que fosse. E o Portugal que é Cavaco, infelizmente, é o Portugal do pior de ser português. O Portugal do desenvolvimento desenfreado, descontrolado e catastrófico. O Portugal dos IP’s dos acidentes. Da ignorância ambiental. O Portugal dos fundos estruturais desviados. O Portugal do ensino superior sem qualidade. O Portugal sem pré-escolar. O Portugal do monstro e do betão.
Mas o logro de Cavaco é outro, é a impossibilidade de personalizar o papel que é atribuído ao presidente na nossa república. Cavaco, para o mal e para o bem será sempre outro tipo de personalidade e não lhe convêm lembrar isso às pessoas. Pelo menos até terem a sua decisão consolidada.
Alegre oscila, entre o idiota útil e o representante da alma, das almas. Dos portugueses de outrora consagrados em poesias inflamadas e louvores que engrandecem o peito. O rebelde a quem já não sobram muitas causas. Mas tem sido muito útil, principalmente a uma certa esquerda, muito mais velha do que Soares, que se eterniza e que se sente acima de todos, sempre bem defendida atrás de uma ética republicana, que amiúde se encarrega de apunhalar.
Jerónimo sim. Embora tenha sempre presente aquele arzinho de gato escondido com rabo de fora, há que admitir que conseguiu um outro elan para aquilo que é, e que no fundo sempre foi. Eu cá prefiro assim. Não gosto de comunismos reformáveis nem de cosméticas à medida. Marx teorizou e Lenine tentou operacionalizar. Não é válido no que nunca foi e continua válido no que sempre foi. Ponto. A simpatia não tem nada a ver com isto e já se sabe que dá votos. Ponto outra vez. Ou alguém dúvida da pertinência actual do discurso trabalho vs capital?
E Soares? Soares é fixe, mas aparece tão velhinho… Acho até que exageraram propositadamente nos cartazes, para dar uma de Papandreu, de avozinho fundador. Não o tenho visto assim tão velho, e até está bastante ágil.
E aqui voltamos ao início da questão, o tamanho, a dimensão. A dimensão do homem e a dimensão do mandato (factor a considerar, sem dúvida).
Temos como ponto adquirido, pelo menos eu tenho, o cenário desolador de uma conjuntura que dá os seus últimos passos, que se esgota. Algum destes candidatos poderá personificar uma transição? Seguramente que não!
Então, fechemos os olhos, libertemo-nos do manancial diário de ideias feitas e votemos em quem cada um de nós imaginar como o Presidente de todos os portugueses.
Ou então façamos simplesmente outra coisa qualquer.


3 comentários:

Anónimo disse...

Impressionante!

Anónimo disse...

A malta agora percebe as biografias profissionais do Cavaco, as Taras do Louçã, e as danças do Jeronimo.
é ke a fonte de inspiração dos candidatos presidencias é a Madonna - so falta mesmo ver o Alegre com chapeuzinho de rede armado em Evita

Anónimo disse...

Cara incoerente, nem sempre lhe sai bem, não é? Pois, a mim tambem . Mas a sua presença é sempre um encanto...